O tributarista Leonardo Manzan ressalta que tratar das novas regras de preço de transferência e de seus reflexos para empresas brasileiras tornou-se prioridade para negócios que possuem relações econômicas com empresas do exterior. O Brasil, ao alinhar-se às diretrizes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), promove uma verdadeira revolução na forma como as operações entre partes relacionadas são avaliadas do ponto de vista tributário.
Esse movimento busca reduzir conflitos fiscais internacionais e evitar a erosão da base tributária, mas também traz desafios para empresas que terão de rever processos, contratos e documentação. Ainda, para muitos setores, as mudanças significam não apenas ajustes técnicos, mas uma transformação cultural na forma de lidar com questões tributárias.
As novas regras de preço de transferência e seus reflexos para empresas brasileiras
Conforme informa Leonardo Manzan, até recentemente, o Brasil seguia regras próprias, distantes dos padrões internacionais. As antigas normas utilizavam métodos fixos e margens pré-estabelecidas para calcular preços praticados em operações com empresas vinculadas no exterior. Isso simplificava a fiscalização, mas criava incompatibilidade com tratados internacionais e gerava risco de dupla tributação.
Com as mudanças, o país passa a adotar o princípio arm’s length, pelo qual os preços devem refletir aqueles que seriam praticados entre partes independentes, considerando circunstâncias econômicas e comerciais reais.
Mudanças relevantes para as empresas
As novas regras exigem que empresas comprovem, com maior rigor, que seus preços de transferência não resultam em deslocamento artificial de lucros para jurisdições de baixa tributação. Leonardo Manzan observa que isso implica elaboração de relatórios detalhados, comparações de preços de mercado, análises financeiras e justificativas econômicas.
Muitas empresas precisarão investir em sistemas de gestão tributária, contratar especialistas e revisar políticas internas. As exigências, embora alinhadas às práticas globais, podem representar custos adicionais e demanda por maior organização. Empresas que já operavam com margens reduzidas precisam agora redobrar o planejamento para não comprometer a saúde financeira.

Setores mais impactados
Além disso, setores como indústria farmacêutica, tecnologia, automotivo e agronegócio tendem a ser mais afetados, pois possuem grande volume de operações com partes relacionadas fora do Brasil. Leonardo Manzan destaca que as empresas exportadoras precisarão redobrar atenção, já que preços praticados nas transações internacionais poderão ser objeto de questionamentos tanto pelas autoridades brasileiras quanto pelos fiscos estrangeiros.
Tal realidade exige análises minuciosas sobre contratos de serviços, royalties, fornecimento de bens e operações financeiras, pois a margem de erro se reduziu significativamente. Há também a preocupação com o alinhamento de relatórios apresentados a diferentes países, para evitar inconsistências que possam gerar autuações.
Cuidados e estratégias para adaptação
Empresas devem começar a planejar desde já sua adaptação às novas exigências. Leonardo Manzan pontua que é recomendável revisar contratos intercompany, documentar critérios de preços e atualizar políticas internas de compliance tributário. Além disso, promover treinamentos para equipes contábeis e fiscais pode ajudar a evitar erros que se transformem em autuações onerosas.
É igualmente importante acompanhar as normas complementares que a Receita Federal está editando para orientar a aplicação prática do novo regime. Pequenos detalhes nessas regulamentações podem gerar grandes diferenças no resultado tributário.
Preparação para um ambiente mais exigente
Leonardo Manzan comenta que, apesar das dificuldades iniciais, a adoção do modelo arm’s length tende a melhorar a imagem do Brasil junto a investidores estrangeiros, reduzir disputas fiscais internacionais e abrir caminho para maior integração do país à economia global. Para as empresas, entender as novas regras de preço de transferência e seus reflexos é crucial para evitar riscos fiscais e manter a competitividade no mercado internacional.
O cenário exige atenção constante e disposição para investir em estrutura e conhecimento técnico, fatores que podem se tornar diferenciais num ambiente tributário cada vez mais exigente. As empresas que se anteciparem às mudanças terão condições mais sólidas de enfrentar os novos desafios e aproveitar oportunidades geradas pelo alinhamento às práticas internacionais.
Autor: Aleksandr Ivanov